Com o intuito de analisar o ambiente da produção de alimentos de origem vegetal dos sistemas agroalimentares brasileiros, GPP/Esalq e Imaflora lançaram em janeiro a publicação “Produção de alimentos no Brasil: geografia, cronologia e evolução”. O estudo contou com a parceria do Instituto Ibirapitanga e do ICS (Instituto Clima e Sociedade).
Sistemas agroalimentares compreendem o conjunto de atores, tecnologias, insumos, normas e atividades relacionadas a produção, armazenagem, transporte, transformação, distribuição, preparação e consumo de alimentos. Em resumo, o complexo contínuo entre o campo – incluindo aquilo que faz o campo funcionar – e o prato de comida, incluindo as consequências coletivas do seu consumo.
Os sistemas agroalimentares são centrais em pelo menos três importantes crises globais: ambiental (mudanças climáticas, ameaças à biodiversidade, regulação do ciclo hidrológico, entre outros fatores); social (pobreza, desigualdade, concentração de renda e oportunidades, perda de identidade cultural e valores tradicionais); e de saúde coletiva (doenças crônicas não transmissíveis, expectativa e qualidade de vida e suas causas subjacentes). Daí a importância de um estudo de profundidade sobre o funcionamento desses sistemas, em especial no Brasil, onde – apesar de o país ter se tornado uma grande potência agrícola global – os problemas da fome e da subnutrição não foram resolvidos.
“No sistema agroalimentar brasileiro, que conecta a produção com o prato de comida, as políticas e a governança voltadas à produção não são interligadas de forma eficiente com as políticas e a governança da questão alimentar, que também acaba muitas vezes sendo movida mais ao reboque de interesses econômicos do que sociais”, aponta o professor Gerd Sparovek (USP) no prefácio da publicação. A análise de dados foi conduzida por Ana Chamma (GPP/Esalq), com supervisão do pesquisador sênior do grupo, Alberto Barretto.
Entre os principais achados:
a incorporação de terras à mancha agropecuária ocorre em taxas altas e relativamente constantes, independentemente do processo de modernização e intensificação do setor agropecuário;
a economia de áreas para cultivos agrícolas não depende somente da maior intensificação produtiva. As cadeias agrícolas combinam processos de expansão e retração com ou sem aumento de produtividade em dinâmicas predominantemente intrarregionais;
não é possível afirmar que o Brasil perdeu variedade de culturas agrícolas. A hipertrofia das commodities agrícolas dá a falsa impressão de que não há mais variedade de cultivos agrícolas;
a escala de viabilização econômica das principais culturas é o elemento central para definir a geografia da produção agrícola.
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